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segunda-feira, outubro 27, 2003

Uma corda em Barcelona


No outro dia fui ouvir musica para o terraço. Estava já a dançar quando o Raul (o francês do meu piso) apareceu. “Ei António... Qué tal? Que musica es?”.
-Um grupo Português. Anda ouvir.
Ele ouviu um pouco e embalado pelos meus movimentos acrobáticos quase a fugir do ritmo perguntou-me o que dizia a letra. Nao estava à espera dessa pergunta mas uma resposta rápida surpreendeu o meu normal desleixo para prestar atençao às letras: enquanto fazia gestos tentando imitar os artistas que no circo se equilibram numa corda disse: "Diz que a vida se deve viver como uma corda”. ele entendeu-me. E ele sorriu.
Dias mais tarde lembrei-me outra vez da letra. A sua simplicidade surgiu do tamanho de tudo o que vejo e fez-me sentir um intruso espacial.
O limite desta letra é a própria vontade e os próprios sonhos. O limite da sua realidade é cada um dos que sorri.

“DANÇAR NA CORDA BAMBA (Musica dos Cla)
Letra: Carlos Tê

A vida é como uma corda
De tristeza e alegria
Que saltamos a correr
Pé em baixo, pé em cima
Até morrer

Não convém esticá-la
Nem que fique muito solta
Bamba é a conta certa
Como dança de ida e volta
Que mantém a via aberta

Dançar na corda bamba
Não é techno, não é samba
É a dança do ter e não ter
É a dança da Corda Bamba

Salta agora pelo amor
Ele dá o paladar
Mesmo que a tua sorte
Seja a de um perdedor
Nunca deixes de saltar

Se saltares muito alto
Não tenhas medo de cair (baby)
De ficar infeliz
Feliz a cem por cento
Só mesmo um pateta feliz “

sexta-feira, outubro 24, 2003

Bairro Gótico


Algumas ruas nasceram da musica .
Em algumas a musica ainda existe.

Da textura das sombras surge o relembrar da musica que as criou. Nota a nota o sentimento que faz sonhar representa a evidência da criaçao. construçoes monumentais recortam o ceu enquanto dançam.

Risos sonhos memorias palavras passos olhares carinhos cumplicidades curiosidade:
Nestas ruas tudo cohabita em perfeiçao com a mesma musica que as criou.

Existem lugares onde esta musica se ouve no silencio. Aqui ela ouve-se no agitar de quem percorre cada passo do silencio que nao pode existir. A rua está viva.a sua memória confunde-se por entre os pensamentos. Algumas pessoas riem-se dela. Muitas riem-se com ela.

Um tilintar (euró)tico presenteia o musico pela sua vida. A perpetuaçao de cada melodia que envolve a nossa pele depende deste tilintar. O prazer existe e essa é uma forma de o demonstrar.Essa é a forma de prolongar o nosso prazer.
A magia que ondula por entre os séculos que se erguem a cada passo sabe que muitos sentem cada rua e a sua existência na retórica da musica. O musico também sabe disso.também o sente.mas o seu sentimento necessita do nosso prazer para sobreviver leve e dentro de cada um de nós.

Os olhos brilham mais por aquí. Pelo ar voa uma beleza cor de luz que nos faz acreditar que os dias dificeis existem, mas o sonho e a emoçao que nos liberta o corpo, sabem que existe um lugar para lá dos dias maus onde essa luz também somos nós.

terça-feira, outubro 14, 2003

NOME: JAMBOREE
LOCAL: Praça Real
DIA: segunda feira, 13 Outubro
HORA: 22H
ASSUNTO: Jam session (Jazz, claro!)
PREÇO: 3 euros

Para mim a hora era óptima. Nao demasiado tarde. Afinal tinha aulas no dia seguinte.pela manha.
Fui pontual.é perto de minha casa.
Desci umas escadas que cheiravam já uns ritmos de Jazz. um orgao percorria o contrabaixo enquanto a bateria mostrava que também sabe fazer musica. Era ainda uma gravaçao. No fim das escadas a luz era mais timida. e por isso me deixava mais à vontade.
A sala era grande mas dividida por paredes. nestas existiam passagens em arco. a luz e a sombra chegavam a todo o lado. pouca luz. as paredes eram de pedra. os arcos lembravam a india.
Na zona do palco nao estava muita gente.
O grupo nao demorou a aparecer. começou a tocar. O facto de nao ter muita gente deixou-me a pensar: " Será que eles ganham dinheiro suficiente para ter estes gajos a tocar?", Barcelona é muito estranha. Será que o prazer de tocar é tanto que eles tocam mesmo com tao pouca gente?". era isto que faltava no Porto.
Começaram a tocar.
Cada nota era uma cabeça a abanar. uma perna a sentir o ritmo. um sorriso que olhava a emoçao do saxofone. e mais. cada nota era cada pessoa que entrava. que aos poucos se ia sentando pelo chao. após umas musicas mais o chao nao era suficiente. e da posiçao sentada todos passamos à posiçao que caracteriza o Homem.de pé. assim cabia mais gente na sala.
Pois é. estava enganado. afinal aqui nao há concertos vazios. aqui a noite espera que as pessoas saiam para a rua mesmo que o dia seguinte faça a noite mais curta.
A musica nao dava sinais de parar. Os musicos estavam sempre a mudar. Ora trocava o guitarrista, ora trocava o baterista, o saxofonista. era uma jam session.
No palco a musica convivia. Cá em baixo,na plateia, a musica sentia-se. com "ganas" de quem queria também fazer parte dela.


sexta-feira, outubro 10, 2003

A minha universidade

A Faculdade de Engenharia de Caminos que frequento situa-se na zona universitária (fim da linha verde).uma zona repleta de Faculdades, estando a minha situada no Campus Nord (cerca de 7-10 min a pé desde que saio do metro).
Os edificios sao agradáveis:
a cor tijolo rodeia pequenas praças onde os estudantes podem sentar-se a ler ou a relaxar (por estes lados relaxar significa falar e falar e falar). Sao especialmente agradáveis quando o sol, que por aquí nao se intimida facilmente, escorre pela folhagem das arvores que cohabitam esses espaços.
É também para aquí que nos dirigimos todos, no intervalo das aulas. Sim, porque aquí as aulas têm intervalo ao contrário do que acontece em Portugal. Uma aula de 2 horas tem obrigatoriamente um intervalo de 20 min.uma de 3 horas tem 2 intervalos de 15min. Para mim é óptimo, pois, se nao tivesse intervalo (como acontecia em Portugal), antes de uma aula de 2 ou 3 horas seguidas eu pensaria sempre duas vezes antes de me aventurar a ir (o carácter desmotivante da 2ª hora nao compensa o que se aprende na primeira). com intervalo é diferente.é melhor.
Aquí no Campus os diferentes tipos de engenharia (civil, telecomunicaçoes, informática…) estao bem independentes.cada um tem a sua “praça” ou em alguns casos as suas instalaçoes estao situadas noutros locais do Campus. Desta forma nao se vê tantos alunos como na Feup.
A forma como sao dadas as aulas é muito similar à de Portugal.muito mesmo.a única diferença é que aquí nao temos aulas praticas como em Portugal. Dao-nos a teoria e depois ou temos uns trabalhos ou. “depois logo se vê”.
Os alunos parecem todos muito empenhados. E autónomos. Aliás, aquí em Barcelona todos parecem muito independentes, autónomos e responsaveis (principalmente as raparigas). Muito habituados aos “Erasmus” com quem ano a ano partilham as aulas e todos os espaços da universidade, creio que para eles estudar na sua cidade é encarado quase como eu a encaro, sendo um Erasmus. para além do trabalho existe sempre a vontade de partilhar outros conhecimentos. Estao sempre abertos a trabalhar connosco e para já parecem muito descontraídos na forma como encaram algum trabalho que tenhamos que fazer.
Quando passeio por aquí muitas vezes comparo esta com a nossa faculdade. Por exemplo, aquí todos os andares da biblioteca têm casa de banho, ao contrário de Portugal (que tem uma casa de banho para meia duzida de andares), tem bebedouros com agua fresquinha pelas instalaçoes, umas arvores espalhadas pela sombra, uma imensidao de scooters e bicicletas em vez de uma imensidao de carros, uns bancos de jardim livres para uma soneca.
Existe ainda algo que gostei especialmente. uma empresa que trata exclusivamente de todas as necessidades extracurriculares necessárias, desporto, cultura, lazer, saude. Facilmente temos acesso a inumeras opçoes de actividades, a polidesportivos, ginasios (a preços muito acessiveis para um aluno de cá) e alguns descontos especiais (cinemas,piscinas, museos). Basta para isso pagar 19 euros anuais.(eu paguei mesmo sabendo que só vou estar por cá meio ano, acho que mesmo assim vale a pena.espero.). Gostei de ver.
Claro que nem tudo é bom. Aquí nao existem os preços magnificos das cantinas portuguesas. Para almoçar tenho que gastar o dobro ou o triplo. E mesmo os serviços de cafeteria sao bastante mais caros.e a comida às vezes é um pouco estranha. Aquí muitos trazem comida de casa.umas sandocas.uma pasta.
Mas atençao, nem tudo está mal para quem traz a comida de casa pois aquí nao faltam os microondas para os alunos utilizarem. A primeira vez que os vi dei umas gargalhadas. É quase como a “Ceifeira” de Fernando Pessoa.”ter a incosciência dela e a consciência disso”. Aquí gastam dinheiro em equipamento (microondas – consciencia das necessidades de quem traz comida de casa) que servirá para diminuir uma necessidade maior que deveriam resolver primeiro (inconsciencia pois deveriam ter serviços de refeiçao mais acessiveis). Eheh. Eles têm alguma consciencia da sua inconsciencia. Mas mais vale pouco que nada né?


terça-feira, outubro 07, 2003

Cap. 6 - Na casa de alguém.


Sábado.
”Hola chico.nao sei se sabes mas hoje há uma festa de piso, queres ir? é na c/ Napols 110, 1-2 metro Arc d Triunph. Hasta luego.”
Humm, pareceu-me bem. Muito bem. Com um pequeno senao: nao me recordava de alguma vez ter visto o dono. Duvidava mesmo que o conhecesse.
Entrar por uma casa dentro sem conhecer o dono nao me é muito habitual. Mas pus-me a caminho. Nada como ir para ver.

A rua estava calma.

Nenhum sinal de festa. Apenas algumas pessoas na rua, que como eu, miravam as varandas dos prédios talvez em busca de luz ou alguma musica. Nada.
Na morada que me tinha sido indicada apenas se vislumbrava um casal de idosos à entrada do edificio.”esperam um Taxi.”-pensei.

A noite caía receosa. Talvez temesse algum fracasso. Talvez sentisse que aquele era um encontro impossível. um encontro em que o mais importante nao existia: a certeza dele existir.
A verdade é que aos poucos a rua começou a sentir as passadas largas de um grupo risonho. “Ah eu já estava à espera deles”- disse um italiano que entretanto se tinha encostado também à porta nr.110. (estava lá já eu, a Rita :uma amiga que passava umas férias por Barcelona e que também alinhou em vir descobrir uma festa de Erasmus, e o Henrique,que tal como eu é representante da FEUP por estas bandas).
Agora tudo parecia bem encaminhado.Conhecia algumas pessoas do grupo.
O truque agora era juntar-me a eles e esperar que o espirito de novidade que pairava no ar permitisse que todos tivessemos lugar na festa. Tivemos. Aquela era a nossa festa.
Aos poucos foram chegando mais pessoas que já havia conhecido por outras paragens. E através delas fui conhecendo umas quantas mais. Bebemos uns copos. As bebidas trouxemos nós. Nós. eu nao tinha levado nenhuma. Levo para a próxima.
Mas como em todos os prédios, também neste tinhamos os vizinhos demasiado próximos. E por causa deles a festa acabou demasiado cedo.
Saimos.Acho que nao cheguei a conhecer o dono.
A rua continuava calma.
Espero pela nossa próxima festa.

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