0 Carrer del Vidre <$BlogRSDUrl$>

terça-feira, dezembro 23, 2003

De volta a Portugal. Um dia em Gaia




Carros e movimentos afogam a cidade. Eu dentro de um carro protegido do mundo. A chuva encontra um vidro que é olhar. A viagem é curta e o destino. solitário.
Saio do carro e bato a porta sem cuidado. Desprezo a dependência da vida na sua existência. Flocos de neve ditam esta dependência. Flocos que viram bolas de neve. Bolas que viram carros. Muitos carros. sim: aqui o autocarro tem personalidade ambígua. vontade própria. Maus hábitos. Não sabe dialogar. E o metro: existe, mas é invisível. volátil. Sonhador. eu. quero mover-me.
Onde estou agora, não chove. As ultimas prendas de Natal esperam por mim. Vim ao shopping: cidade de gente recheada de bolsos hesitantes. A temperatura é amena. As nuvens não se vêem. A natureza está recriada nos reflexos quase humanos de cada montra descontrolada. Devaneios cerebrais decidem a melhor compra. quem sou acelera o passo.quero despachar-me.
Volto para casa por outro caminho. Demasiado familiar. Uma fila de carros ri-se dos pássaros que voam. uma lagarta de fumo que hesita mover-se. uma cobra venenosa que me morde. Olho o telemóvel distraindo-me. conheço o anuncio que dá no radio.
A minha casa já se vê perto. Faltam 40 arranques de motor. um cérebro queimado.

segunda-feira, dezembro 15, 2003

Ida a Tibidabo



Tibidabo vê-se de toda Barcelona.é uma basilica que erguida no cume de uma montanha sempre nos mira com olhos de quem um dia nos vai ver por lá.
A nevoa que a rodeia esconde um misterio que conhece bem a curiosidade do ser humano. a sua essencia sorri o nosso olhar. e ela ergueu-se altiva para se mostrar. e seculos de curiosidade nos levam lá.

Entre fotos desencontradas de uma Barcelona estática esconde-se a textura de momentos que fluem em mim. momentos de emoçao e de cumplicidade de uma cidade em que vivo.Uma foto absorve a basilica.outra admira a cidade. e uma matriz de sentimentos guarda a maquina no bolso: Porque uma fotografia algumas vezes limita a existencia do que reproduz. limita-a à sua forma.à sua textura.à sua luminosidade. e algumas vezes isso nao chega. Porque quando olho o ceu, Barcelona continua a existir. Mas quem distingue Barcelona numa foto do seu céu?

Sentado num degrau da basílica de Tibidabo sinto o sol massajar-me a face. Procuro o aconchego do meu peito. A musica ajuda-me. e o sol. e o ceu. tudo é ceu do lugar onde me sento. Se me levanto Barcelona existe.grandiosa e secreta.

Há algum tempo nao escrevia. Algo me roi a capacidade de escrever. confuso entre o ser e o estar, culpo a cidade e as pessoas por nao existir sempre uma limonada de gargalhadas à minha espera cada dia. Para o Raul(o frances do meu piso) e o Andy(o alemao) o mais dificil do espanhol é compreender a diferença entre o verbo ser e o estar. no idioma deles essa diferença nao existe. Algumas vezes eu disse sorridente: “isso para mim nao é um problema porque em Português também existe essa diferença.uma questao de prática! ”. Mas a verdade é que a magia desses dois verbos continua a crescer comigo.com as minhas duvidas.
Uma vontade do tamanho do mundo existe em mim querendo questionar o responsavel por essa diferença. Talvez pudesse ajudar-me.
Outro problema é que para mim nao existem dias isolados.existe um dia que segue outros e que precede alguns mais. e hoje, os dias que vêm agitam-se no meu corpo. ocupam-me a emoçao que necessito para sentir cada palavra.
Entao procuro ultrapassar os limites das minhas duvidas e ouso acompanhar as arestas verticais desta basilica no topo da cidade. Montanhas e arvores a rodeiam. caminhos ondulam na sua direcçao. uns pelo monte. uns pelo ceu. nuvens arriscam emboscada. uma névoa opaca envolve alguns instantes do meu olhar. Duendes azuis lançam cordas de ouro para a terra dos mortais.
Ergo-me dos degraus quentes.
Ao fundo as 2 torres de barceloneta. Uma regata no mar. Montjuic se eleva. a torre de Glories perto da Sagrada Familia. Gruas na Sagrada Familia. a torre de Colon. inumeras Ramblas. o porto de Barcelona. a zona industrial. o teleferico. casas e casas.terraços.e o mar que existe até ao ceu.

terça-feira, dezembro 09, 2003

The Strokes in concert


The Strokes tocaram no pavilhao olimpico Val d'hebron.
O que eu senti foi diferente do que a banda sentiu. eu senti a musica. eu senti os apertados saltos do extase. a vontade de me entregar a um bombardearmento de sons, muitas vezes sem sentido, que me encontram na compreensao da criaçao e que ecoam a necessidade de quebrar os limites da propria musica.
Os musicos nao ferviam. é certo que nao devemos deixar que o corpo roube energia ao sentimento que pensa. mas o auge chega quando o que pensamos e sentimos produz energia suficiente para movimentar o corpo. e entao a energia é toda sentimento e pensamento que movem o corpo em rasgos de prazer.
As guitarras gritavam imoveis.e as luzes multicolores moviam-se com a multidao.
O concerto foi curto. nao voltaram para um encore. aquela musica nao é deles.
A musica foi nossa. roubamos-lhes a musica. as ondas sonoras foram cordas de uniao que esmagaram testas de ousadia.

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